ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA E CULTURAL DE CAMAÇARI
Alunos: Eudaldo F. Medrado, Ana Caroline e Clariézer Oliveira
Professor: Gerfson Moreira Oliveira
Disciplina:Teorias e Sistemas( Psicanálise)
Alunos: Eudaldo F. Medrado, Ana Caroline e Clariézer Oliveira
Professor: Gerfson Moreira Oliveira
Disciplina:Teorias e Sistemas( Psicanálise)
A escola psicanalítica francesa é marcada pelo conceito de estrutura
clínica, onde se destacariam três estruturas: a neurose, a psicose e a
perversão. Está ligado a este conceito um determinado modo de
funcionamento da mente, um modo de relação do sujeito com o outro e com o
seu desejo, sendo este modo algo rígido e imutável.
E dentro do conceito de estrutura os modos de funcionamento da
histeria e da perversão tendo que pensar em que diferiam e em que se
assemelhavam; se por um lado pareciam coisas absolutamente diferentes,
por outro há uma interface capaz de provocar bastante confusão.
Tendo em mãos a teoria do complexo de Édipo e do complexo de
castração, houve um avanço substancial na compreensão tanto das neuroses
(“o complexo de Édipo é o núcleo das neuroses”) como das perversões.
Freud fez questão de manter o termo “castração” para ser usado na
época em que a criança ingressa na fase fálica. Refere-se a uma fantasia
que a criança tem ao perceber que as mulheres não tinham pênis. Diante
desta percepção, o menino conceberá a ideia de que houve uma castração
(e não que o sexo das mulheres é diferente do dele) e logo a seguir
surge a ideia de que se ele não abandonar seu objeto de amor, será
castrado também. Quando a criança se dá conta disto, ela se depara com a
percepção de que sua mãe é incompleta, não mais onipotente como antes
imaginou, e se depara com a percepção do desejo entre os pais que se
sustenta na diferença dos sexos. É o momento que perceberá também que
esteve enganado o tempo todo sobre o “seu saber”.
É ao se deparar com a falta que o sujeito pode se constituir como
sujeito do desejo. É neste momento que se dá conta da dependência do
outro.
Tanto o individuo histérico quanto o perverso parecem ter um
enroscamento justamente nesta fase, apesar de que no período pré edípico
já ocorreram uma série de vicissitudes que marcarão a entrada, tanto do
histérico como do perverso, no complexo edípico e na fase fálica.
Em seu texto sobre o fetichismo , Freud vai dizer que o fetiche é um
substituto para o pênis, não para qualquer pênis, mas para o pênis que o
menino antes acreditou que a mãe possuía. Através do fetiche, há uma
recusa em aceitar a percepção de que a mãe não tem pênis. Neste
mecanismo, a percepção não é inteiramente apagada. Freud diz: “não é
verdade que, depois que a criança fez sua observação da mulher, tenha
conservado inalterada sua crença de que as mulheres possuem um falo”.
Reteve essa crença, mas também a abandonou.
Freud ressalta o horror que o fetichista sente ao se deparar com a castração.
Penso que este intenso horror pode estar ligado à concretude com que o perverso compreende a idéia de castração, algo que exige um mecanismo engenhoso para dar conta de algo que não consegue ser simbolizado.
Como Freud nos esclarece, o fetiche é e ao mesmo tempo não é o pênis, ele diz “a mulher teve um pênis, mas esse pênis não é mais o mesmo de antes” – a percepção não pode ser apagada, o fetiche está lá para negar a ausência do pênis, mas ao mesmo tempo é aquilo que sempre lembra esta ausência, lembra que algo está no lugar do pênis ausente (isto é um dos pontos de diferenciação do perverso em relação ao psicótico). Haverá um lado que se ajusta ao desejo e outro que se ajusta à realidade e ambos caminham juntos. O fetichismo é o ponto de partida para a perversão, o que está em jogo é a crença na onipotência da mãe ou, dito de outro modo, crença na feminilidade fálica. É preciso dizer também que o fetiche, que tem como finalidade ocultar a falta, pode ser direcionado a qualquer coisa. Ou seja, qualquer coisa pode ser “fetichizada” – ou, dito de outro modo, o perverso pode se valer de várias artimanhas em que o mecanismo central é o do fetiche. O fetiche é o equivalente do pênis da mãe, há o uso de uma equação simbólica e não de um símbolo como o histérico é mais capaz de fazer, denunciando uma menor capacidade de simbolização do perverso perante o histérico. Já o histérico não tenta mitigar a castração: a castração existe, mas ele tenta fazer com que quem seja castrado seja o outro e não ele. É o outro que fica no lugar da falta.
Penso que este intenso horror pode estar ligado à concretude com que o perverso compreende a idéia de castração, algo que exige um mecanismo engenhoso para dar conta de algo que não consegue ser simbolizado.
Como Freud nos esclarece, o fetiche é e ao mesmo tempo não é o pênis, ele diz “a mulher teve um pênis, mas esse pênis não é mais o mesmo de antes” – a percepção não pode ser apagada, o fetiche está lá para negar a ausência do pênis, mas ao mesmo tempo é aquilo que sempre lembra esta ausência, lembra que algo está no lugar do pênis ausente (isto é um dos pontos de diferenciação do perverso em relação ao psicótico). Haverá um lado que se ajusta ao desejo e outro que se ajusta à realidade e ambos caminham juntos. O fetichismo é o ponto de partida para a perversão, o que está em jogo é a crença na onipotência da mãe ou, dito de outro modo, crença na feminilidade fálica. É preciso dizer também que o fetiche, que tem como finalidade ocultar a falta, pode ser direcionado a qualquer coisa. Ou seja, qualquer coisa pode ser “fetichizada” – ou, dito de outro modo, o perverso pode se valer de várias artimanhas em que o mecanismo central é o do fetiche. O fetiche é o equivalente do pênis da mãe, há o uso de uma equação simbólica e não de um símbolo como o histérico é mais capaz de fazer, denunciando uma menor capacidade de simbolização do perverso perante o histérico. Já o histérico não tenta mitigar a castração: a castração existe, mas ele tenta fazer com que quem seja castrado seja o outro e não ele. É o outro que fica no lugar da falta.
Numa relação em que o perverso ocupa um lugar masoquista – um lugar
essencialmente de submissão não deixa de existir a fantasia de que
alguém ocupa o lugar fálico e ainda: o masoquista é aquele que outorga
ao outro o direito de dominar sua vida, é ele quem “tem o poder extremo
de investir outro da potência fálica”. O perverso tentará provar o tempo
todo que a castração não existe.
Tanto o perverso quanto o histérico estão tentando lidar com a
questão da castração para se defender da castração, o perverso irá usar
um mecanismo mais poderoso que a repressão (usada com frequência pelo
neurótico) que é a recusa. Ele tentará provar o tempo todo (no fundo,
para si mesmo) que a castração não existe, ou que quem a faz é ele ou
que a castração é “de mentirinha”, de brincadeira.
E nesta noite iremos nos ater na estrutura da perversão e para
começar a nossa apresentação iremos da significado etimológico da
palavra “perversão” deriva do verbo latino pervertere
resulta de “per” + “vertere” (quer dizer: pôr às avessas, desviar..), o
que significa tornar-se perverso, corromper, desmoralizar, depravar
designa o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das
coisas. Seu emprego não é privilégio da psicanálise. Tem origem datada
em 1444 quando utilizado no sentido de retornar ou reverter, ganhando
cedo a acepção de “deplorável”, algo desprezível. No entanto, em um
sentido mais estrito, a maioria dos autores, mesmo na atualidade, mantém
uma fidelidade a Freud e defende a posição de que, em psicanálise, o
termo “perversão” deve designar unicamente os desvios ou aberrações das
pulsões sexuais, mesmo reconhecendo a existência de outros impulsos,
como aqueles ligados à pulsão de morte.
Outro ponto que deve ser bem enfatizado é o que refere à necessidade
de que se estabeleça uma distinção entre “perversão” e “perversidade”.
Laplanche e Pontalis (1967) assinalam que existe uma ambiguidade no
adjetivo “perverso”, que corresponde aqueles dois substantivos: enquanto
“perversão” alude a uma estrutura que se organiza como defesa contra
angustia, a palavra “perversidade” refere-se a um caráter de crueldade e
malignidade. Assim, o perverso ( no sentido de “perversão”) não busca
primariamente a sensualidade; antes, essa comporta-se como uma
triunfante válvula de escape maníaca contra as ansiedades paranóides e
especialmente, as depressivas. A figura da perversão tem gerado
controvérsias no seio da teoria psicanalítica, não apenas no que
concerne ao seu status diagnóstico, mas também no que toca à própria
procedência ética e ideológica do uso desse termo. Freud empregou-o em
alguns momentos distintos de sua obra, delineando com ele, inicialmente,
uma forma de conduta sexual em que as fantasias ligadas à sexualidade
pré-genital eram atuadas e não mantidas sob recalque. Mais tarde, a
perversão foi ganhando um contorno mais nítido como categoria
psicopatológica e diagnóstica, ao lado daquelas da neurose e da psicose,
sem, no entanto, ter sido circunscrita e definida com a mesma precisão,
com que o foram estas ultimas. Freud pouco ou nada se referiu a clínica
da perversão. (Ferraz, Carvalho)
Estrutura da perversão segundo Freud
Todo o problema das perversões consiste em conceber como a criança na
sua relação com a mãe, relação constituída na análise não pela sua
dependência vital, mas pela sua dependência de seu amor, isto é, pelo
desejo de seu desejo, identifica-se ao objeto imaginário deste desejo
enquanto que a mãe ela mesma o simboliza no falo. (Lacan,Écrits,p.554)
Desde a época da teoria da sedução, Freud se viu às voltas com o
problema da perversão ele já se perguntava o que, afinal, diferenciava
uma perversão de uma neurose. Esta questão vai persegui-lo durante muito
tempo. Desenvolvendo a sua teoria a partir do ponto de vista da
neurose, por outro lado, percebendo que a perversão era uma disposição
geral, original da pulsão sexual, Freud encontra dificuldades em
conceituar a perversão, diferenciado-a da neurose. O polimorfismo da
sexualidade e o fato de que os desvios se encontram em quase todos os
seres humanos, vai levá-lo à famosa formulação: a neurose é o negativo
da perversão. Tal fórmula vai dar lugar a uma avalanche de
interpretações abusivas, onde a neurose é sempre identificada como o
resultado de um recalque patológico, enquanto a perversão seria
exatamente o resultado da falta de recalque. Ou, em outras palavras, a
perversão seria fruto da falta de elaboração das pulsões parciais.
Houve inúmeras frases de Freud que se tornaram célebres e sem dúvida
nenhuma uma delas foi: “A neurose é o negativo da perversão”. Através
desta ideia Freud destacou que as fantasias dos neuróticos e dos
perversos são as mesmas. Aliás, ele foi genial ao ir mais além, quando
mostrou que toda criança era dotada de uma sexualidade e que esta era
perversa polimorfa, conforme seus “Três Ensaios”.
Deste modo, uma primeira diferenciação a ser feita entre a neurose e a
perversão se dá não pelo tipo de desejo sexual, mas por que modo este
pode se expressar. Para o neurótico, o desejo vai se expressar pela
formação do sintoma que é uma formação de compromisso entre o desejo e a
censura. Já no perverso o desejo aparece pela via da atuação, ou, dito
de outro modo, o perverso age, ele encena o desejo. Enquanto o neurótico
vive sua sexualidade na fantasia, o perverso a vive através da
atividade, da ação.
O conceito de estrutura perversa e vai defini-la a partir deste
momento em que o perverso é confrontado com a realidade da diferença
entre os sexos, algo que começa a se instituir nesta fase. O perverso
tem uma vivência da ordem do horror no confronto com a diferença dos
sexos e nisto está a confirmação de que ele está condenado a perder o
objeto do desejo (a mãe) assim como o seu pênis. Ele não consegue
reconhecer que ao renunciar à mãe, ele está abrindo as portas para o
desejo por outras mulheres, ao reconhecer que há uma Lei, ele pode ter
garantido para si o estatuto de sujeito desejante.
Nas pessoas não psicóticas e não perversas, a descoberta da diferença
dos sexos tem um efeito de fascinação nos órgãos sexuais, pois eles
presentificam a diferença entre os pais e o jogo do desejo. A diferença
sexual é o símbolo da diferença entre as pessoas. O perverso tem horror
diante disto porque para ele é algo brutal, a castração é algo real para
ele.
Podemos entender em Freud duas concepções distintas sobre o termo perversão:
1ª ) Está ligada à estrutura básica da sexualidade infantil.
2ª ) Irá se reportar ao momento da Castração e do Complexo de Édipo, fortes componentes culturais na constituição do sujeito psíquico.
A concepção, expressa nos três ensaios sobre a sexualidade (1905),
podemos caracterizar a neurose como o negativo da perversão, ou seja,
aquilo que uma pessoa neurótica reprime e pode gratificar somente
simbolicamente através de sintomas, o paciente com perversão a expressa
diretamente em sua conduta sexual.Segundo Freud ele diz que a perversão
sexual resulta de uma decomposição da totalidade da pulsão sexual em
seus primitivos componentes parciais, quer por fixações na detenção da
evolução da sexualidade, quer por regressão da pulsão a etapas prévias à
organização genital da sexualidade. A ideia principal desse primeiro
momento do desenvolvimento da teoria é que a Perversão estaria
configurada a partir de um predomínio das pulsões parciais
(pré-genitais) sobre a genitalidade. Dessa forma, o sujeito que desviava
do comportamento sexual da norma (genital e direcionado aos fins de
reprodução), produzindo um investimento libidinal em um objeto de desejo
perverso, não teria feito a entrada no Complexo de Édipo, o que por fim
permite dizer que o Perverso não experimentaria o medo da castração.
Freud traz a existência da atividade sexual infantil, sendo ela
modelo para a sexualidade adulta, bem como a condição da criança de
“perversa polimorfa”, que aos poucos seria moldada de acordo com padrões
e normas ditadas pela cultura. Essa noção da cultura sobrepondo-se à
perversão remete à origem do termo como sendo uma fuga da norma social.
A noção de pulsão é essencial para o entendimento da sexualidade em
Freud. Ela pode ser descrita como uma descarga de energia que flui
continuamente impulsionando o sujeito na busca de sua satisfação. O
objeto, segundo Freud (1996[1915]), “É o que há de mais variável na
pulsão e, originalmente, não está ligado a ela, só lhe sendo destinado
por ser peculiarmente adequado a tornar possível a satisfação”. Por isso
não existe um objeto único ao qual o sujeito deverá ligar-se para
satisfazer suas fantasias, havendo, portanto, uma normalidade subjacente
a diversas práticas sexuais que poderiam ser consideradas “depravadas”.
A metapsicologia freudiana tem duas explicações para a perversão: a
primeira é decorrente da polimorfia da sexualidade infantil e a segunda,
do fetichismo, como recusa à castração (Valas, 1990). Tanto as
psiconeuroses, como as perversões são concebidas como resultados de
distúrbios do desenvolvimento psíquico-individual. Na obra de Freud
encontramos a ideia sobre perversão em constante movimento, até chegar à
construção sobre a resolução do Édipo, resolução diferenciada entre
neuróticos, psicóticos e perversos. Ele aproxima neuróticos e perversos,
afirmando que um é o negativo do outro; o que é recalcado e
inconsciente no neurótico corresponde ao atuado no perverso.
No livro Três ensaios sobre a sexualidade (Freud,
1905/1995a), temos a sexualidade infantil, a partir do perverso
polimorfo e da ideia de que a satisfação sexual infantil não se dá por
uma única zona erógena, mas de forma generalizada por todo o corpo,
ainda não fixado à satisfação genital; o mesmo ocorreria na perversão,
por meio de uma fixação, numa pulsão parcial que escapou ao recalque. A
distinção entre perversão e normalidade estaria na fixação, na
exclusividade de uma determinada prática para alcance da satisfação
sexual. Porém, ao final do texto, ao falar da escolha objetal (definida a
partir da resolução edípica e dos conteúdos pré-genitais), Freud aponta
que a perversão tem uma relação com a castração.
Freud continua sua elaboração da perversão em Teorias sexuais infantis (1908/1995b) e, em Análise de uma fobia de um menino de cinco anos (1909/1995c),
destaca a recusa da criança em aceitar a falta fálica da mãe, que
resulta numa ideia fundamental à sua conceituação da perversão: a recusa
da percepção infantil da castração da mãe retorna na figura da mulher
com pênis, dando origem à fantasia da mulher fálica.
Em Fetichismo (1927/1995e), Freud apresenta o objeto-fetiche
como um substituto do pênis, mas não de qualquer pênis; é o substituto
do pênis materno, em que o menininho outrora acreditou e não quer
abandonar. No desenvolvimento do perverso, ele viveria a castração
materna como algo insuportável e criaria um objeto que esconderia a
falta materna, o fetiche. O fetichista fica preso a uma atitude
infantil, de forma a negar, desmentir a castração feminina; ao mesmo
tempo em que a reconhece, sabe da diferença sexual. Freud usa o termo verleugnung,
termo que designa que o sujeito sabe e não quer saber sobre a
castração. Forma-se uma solução de compromisso pelo conflito entre a
percepção desagradável e a força de seu contra-desejo.
A organização psíquica de um sujeito é decorrente dos caminhos do
Édipo, na relação que o sujeito mantém com a função fálica. É a metáfora
paterna que estrutura o sujeito, pois possibilita o recalque originário
e o processo de simbolização da Lei. A mãe não tem o falo; logo, seu
bebê o é. Ser o falo para preencher a falta da mãe causa angústia, a
mesma de ser engolido por ela. A resposta a essa angústia é uma ilusão;
cria-se um falo para a mãe e ela, tendo o falo, deixa o sujeito
respirar. O perverso coloca o fetiche como substituto do falo faltante à
mãe, que o protege da angústia do desejo dela e de ser engolido pelo
desejo do Outro. Na perversão, a criança assume o lugar fálico,
retirando o pai desse lugar, obviamente com autorização materna para
isso.
O perverso tem um enorme trabalho cotidiano para não se deparar com a
castração; ele tem que teatralizar o tempo todo, seguir papéis rígidos,
de forma a não deixar aparecer a falta, e se proteger contra a angústia
da castração. Precisa manter sua imagem, seu teatro. Para que isso seja
possível, procura parceiros que ocupem o lugar do fracasso, da falta, e
o neurótico cai bem nesse lugar. Quem pensa que o perverso determina
sua ação pelo seu desejo, que ele trabalha para satisfazer seus próprios
desejos, se engana. O perverso tem pavor do desejo porque este o
colocaria diante da falta e ele é escravo do desejo da mãe, daquela
posição fálica inicial edipiana. O perverso se dedica a tampar o furo no
Outro; portanto, ele não o despreza; o que ele imagina é poder
assegurar o gozo do Outro.
Lacan argumenta que os objetos–fetiche são construções que organizam,
ou articulam, a vivência da castração. Demonstra a função do véu ou
cortina, que esconde e designa. Esconde a falta materna, ao mesmo tempo
em que a necessidade do véu aponta a falta, em um jogo de ilusão.
Teremos diferentes consequências na sexualidade, se o sujeito estiver
diante do véu ou atrás dele. Nos casos de exibicionismo e travestismo, o
véu funciona como proteção, o sujeito está identificado com a posição
feminina fálica. No fetichismo, o sujeito se identifica com aquilo que
falta à mãe, o falo. É importante notar que o perverso precisa de
testemunha, presença, olhar. Esse terceiro convidado a ser cúmplice na
cena perversa nada mais é que a mãe, aquela a quem ele está preso,
tentando ser o falo dela; por isso precisa do testemunho de que ele
consegue driblar a lei.
Seguindo os passos da ampliação do âmbito sexual para a posição
subjetiva, podemos compreender o perverso preso a esse lugar de
sustentação do falo, desafiando a Lei, o que abre as portas
para a transgressão, o desafio à lei, para a postura perversa,
desafiadora, provocadora, de quem se comporta como detentor do falo. O
fetiche pode ser um chicote ou o poder; os perversos podem se exibir de
diferentes formas e a palavra pode ser seu falo.
Embora o sentido que a psicanálise freudiana tenha dado ao termo
perversão guarde diferenças em relação ao seu emprego pelo saber médico
do século XIX, não podemos negar as semelhanças quanto à apreensão do
significado desse termo nessas duas tradições de pensamento. As
classificações e descrições que Krafft-Ebing e Havelock Ellis faziam das
diversas formas de perversão sexual foram cuidadosamente examinadas por
Freud e adotadas na elaboração dos “Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade” de 1905. Para uma melhor compreensão do pensamento
freudiano relativo à perversão, achamos pertinente uma breve digressão
das posições de Freud no que concerne à sexualidade. Para tanto,
partimos da teoria da sedução em direção à revolução provocada pelo
descobrimento do “efeito arrebatador de Édipo-Rei” (1897).
A perversão se caracteriza como um construto teórico-clínico
complexo, polêmico e de difícil consenso entre as diversas orientações
teóricas que compõem a psicanálise. Trata-se de um tema que agrega uma
pluralidade de discursos que o articulam em vários níveis e
determinações múltiplas.
Elisabeth Roudinesco (2007), a perversão é um fenômeno sexual,
político, social, físico, trans-histórico, estrutural, presente em todas
as sociedades humanas e questiona: O que faríamos se não mais
pudéssemos designar como bodes expiatórios, ou seja, como perversos
aqueles que aceitam traduzir por seus atos estranhos as tendências
inconfessáveis que nos habitam e que recalcamos. Ao dar uma dimensão
histórica à perversão, Roudinesco nos remete à essência do pensamento
freudiano sobre o tema, fazendo-nos refletir sobre nossas próprias
moções pulsionais perversas.
Muitos são os tabus e os códigos de conduta presentes na sociedade
ocidental que, até hoje, ditam uma normatização utópica para o desejo. A
ideologia religiosa, por exemplo, sempre subjugou e restringiu as
possibilidades de uma vivência sexual que levasse em consideração a
visão psicanalítica de uma pulsão sexual infantil diversificada,
anárquica, plural, parcial, bissexual e perversa, subjacente a toda e
qualquer constituição psíquica. Do Código de Moisés aos dias atuais, o
sexo sempre foi relegado pelas religiões ancoradas na tradição
judaico-cristã a um estado inferior, passível de condenações, restrições
e punições divinas e humanas
No século XIX, a psiquiatria divide as perversões em dois tipos, de
acordo com sua origem: as adquiridas, por condições de restrição
ambiental; e as verdadeiras, ligadas à concepção
hereditário-degenerativa. Em meio a essas concepções, Freud começa seus
estudos sobre a perversão e caminha de uma descrição das perversões
sexuais para uma teorização do mecanismo geral da perversão. Freud no
inicio da sua obre tenha feito algumas alusões à vinculação entre zonas
erógenas com as perversões, como aparece em 1896, na correspondência com
Fliess (carta 52), foi a partir de seu clássico trabalho de 1905 Três
ensaios sobre uma teoria sexual que ele dedica um estudo mais
sistemático e consistente sobre as perversões sexuais, assim definindo o
que se conhece como a sua primeira teoria sobre as perversões sexuais.
Freud ensaia um estudo das perversões que por meio dessas, poder
demonstrar a existência da normalidade e dos desvios da sexualidade
infantil. Vale lembrar que Freud neste trabalho aborda três aspectos do
estudo sobre as perversões:
a) Como resíduo da sexualidade infantil, ligada à fixação em certas zonas erógenas.
b) Como negativo das neuroses.
c) Como um estágio evolutivo normal.
Exemplo: Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância, no qual
ele aborda aspectos referentes à psicossexualidade e à criatividade
artística desse genial artista e sua homossexualidade, que Freud situa
na primeira relação com sua mãe, desde a amamentação, o que vem a
determinar uma identificação do menino com a mãe, tudo marcando o inicio
da sua segunda teoria sobre as perversões.
Em 1914 Freud sobre o narcisismo aborda a escolha dos objetos
homossexuais, embora, na atualidade, seja discutível se a
homossexualidade deve ser encarada como perversão. Em seu trabalho Uma
criança é espaçada ele estuda o sentimento de culpa devido às fantasias
incestuosas e atribui aos castigos físicos impostos pelo pai, e
erotizados pelas crianças, a causa responsável pela gênese do masoquismo
e da homossexualidade.
Perversões Sexuais ou Parafilias
As parafilias, antigamente chamadas de perversões sexuais, são
atitudes sexuais diferentes daquelas permitidas pela sociedade, sendo
que as pessoas que as praticam não têm atividade sexual normal, ou seja,
a sua preferência sexual “desviada” se torna exclusiva.
Tais atitudes (exceto a pedofilia) podem estar presentes em pessoas
com vida sexual normal, apenas sendo uma variação da maneira de se obter
prazer, sem que se caracterize um transtorno. Para se tornar patológica
essa preferência deve ser de grande intensidade e exclusiva, isto é, a
pessoa não se satisfaz ou não consegue obter prazer com outras maneiras
de praticar a atividade sexual.
É importante ressaltar que ela se torna exclusiva porque exclui o
normal, mas pessoas parafílicas podem ter dois ou mais tipos de
parafilias ao mesmo tempo.
As parafilias são praticadas por uma pequena porcentagem da
população, mas como essas pessoas cometem atitudes parafílicas com muita
frequência e repetição, tem ocorrido um grande número de vítimas delas.
Em geral, as perversões sexuais são mais comumente vistas em homens, e o tipo de parafilia mais comum é a pedofilia.
Os tipos de Parafilia
Exibicionismo
É quando a pessoa mostra seus genitais a uma pessoa estranha, em
geral em local público, e a reação desta pessoa a quem pegou de surpresa
lhe desperta excitação e prazer sexual, mas geralmente não existe
qualquer tentativa de uma atividade sexual com o estranho. As pessoas
que abaixam as calças em sinal de protesto ou ataque a preceitos morais
não são exibicionistas, pois não fazem isso com finalidade sexual.
Fetichismo
É quando a preferência sexual da pessoa está voltada para objetos,
tais como calcinhas, sutiãs, luvas ou sapatos, sendo que a pessoa
utiliza tais objetos para se masturbar ou exige que a parceira sempre
use o objeto em questão durante o ato sexual, caso contrário não
conseguirá se excitar e realizar o ato sexual.
Fetichismo transvéstico
É caracterizado pela utilização de roupas femininas por homens
heterossexuais para se excitarem, se masturbarem ou realizarem o ato
sexual, sendo que em situações não sexuais se vestem de forma normal.
Quando passam a se vestir como mulheres a maior parte do tempo, pode
haver um transtorno de gênero, tipo transexualismo por baixo dessa
atitude. É importante ressaltar que o fetichismo transvéstico também só é
diagnosticado como uma parafilia quando é feito de forma repetitiva e
exclusiva para obter prazer sexual.
Frotteurismo
É a atitude de um homem que para obter prazer sexual, necessita tocar
e esfregar seu pênis em outra pessoa, completamente vestida, sem o
consentimento dela, excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso
ocorre mais comumente em locais onde há grande concentração de pessoas,
como metrôs, ônibus e outros meios de locomoção públicos.
Pedofilia
Envolve pensamentos e fantasias eróticas repetitivas ou atividade
sexual com crianças menores de 13 anos de idade. Está muito comumente
associado a casos de incesto, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia
envolve pessoas da mesma família (pais/padrastos com os filhos e
filhas). Em geral o ato pedofílico consiste em toques, carícias genitais
e sexo oral, sendo a penetração menos comum. Hoje em dia, com a
expansão da internet, fotos de crianças têm sido divulgadas na rede,
sendo que olhar essas fotos, de forma freqüente e repetida, com
finalidade de se excitar e masturbar-se consiste em pedofilia.
Masoquismo e Sadismo Sexual
Existe masoquismo quando a pessoa tem necessidade de ser submetida a
sofrimento, físico ou emocional, para obter prazer sexual, e o sadismo é
quando a pessoa tem necessidade em infligir sofrimento (físico ou
emocional) a um outro, e disso decorre excitação e prazer sexual. O mais
comum ao se pensar em sadomasoquismo é associar o sofrimento a
agressões físicas e torturas, mas o sofrimento psicológico também pode
ser considerado forma de sadomasoquismo, e consiste na humilhação que se
pode sentir ou impor. Atos sadomasoquistas só serão considerados
parafilias quando forem repetitivos e exclusivos, sendo que quando eles
ocorrem ocasionalmente, dentro de um relacionamento sexual normal, são
apenas formas alternativas de prazer, e não uma perversão.
Voyeurismo
É quando alguém precisa observar pessoas que não suspeitam estarem
sendo observadas, quando elas estão se despindo, nuas ou no ato sexual,
para obter excitação e prazer sexual.
É importante ressaltar que essas condições só serão consideradas
doenças quando elas forem a única forma de sexualidade do indivíduo, e
que a tentativa dele em recorrer a outras formas de sexualidade para
obter prazer sexual geralmente serão fracassadas, o que levará a pessoa a
continuar insistindo na mesma atitude.
As parafilias decorrem de alterações psicológicas durante as fases
iniciais do crescimento e desenvolvimento da pessoa. Em geral pessoas
que apresentam tais problemas não buscam tratamento espontaneamente, o
que só acontecerá quando seu comportamento gerar conflitos com o
parceiro sexual ou com a sociedade. Sendo assim, tais pessoas aparecem
em consultórios psiquiátricos trazidas contra sua vontade ou são presas
por serem flagradas ou denunciadas.
O tratamento se constitui em tratamentos psicológicos (psicanálise, psicoterapias) e, ou uso de algumas medicações.
O tratamento dependerá da avaliação do caso específico de cada
paciente e em geral não se consegue uma boa resposta, ou seja, é muito
difícil ter melhoras nesses casos.
Pós- Modernidade e a perversão
O termo ‘perversão’ abrange hoje um campo de significações
extremamente amplo. Para além de seu sentido moral (presente na
linguagem natural) e de seu sentido psicopatológico (presente na
linguagem científica), a significação do termo ‘perversão’ possui também
uma vocação heurística. Com efeito, à medida que a Psicanálise revela a
participação das estruturas psicopatológicas no funcionamento normal, a
perversão pode ser considerada uma chave interpretativa de numerosos
processos sociais da atualidade. A economia de mercado, por exemplo, uma
vez que depende do consumo, tem desenvolvido tecnologias de coerção
psíquica, na qual participam processos psíquicos evidenciados pela
psicopatologia da perversão. De modo que o apelo ao consumo tem
adquirido a importância crescente na vida cotidiana e, assim, processos
psíquicos até agora exclusivos à perversão enquanto patologia passam a
ter presença cada vez maior na cultura. À medida que há uma cultura de massa
organizada para a produção do consumo, cuja presença tem se tornado
hegemônica nos processos psicossociais, pode-se conceber uma banalização da perversão a ela atrelada.
Conclusões
Num mundo globalizado como o nosso, no qual se faz necessária a luta
contra o perigo representado pelo processo de aculturação, a fim de não
se perderem os traços característicos de cada raça, de cada povo, urge a
discussão da perversão, seja ela estrutura, seja ela montagem.
Apesar da escassez de estruturas perversas em consultórios de psicanálise, não raro elas estão nas instituições, na política, na polícia, no mundo das artes ou onde brilhe o bastão fetichizado do poder. Pode-se admitir o poder como um fetiche supremo para tamponar o vazio deixado pela castração tão insuportável ao perverso.
Apesar da escassez de estruturas perversas em consultórios de psicanálise, não raro elas estão nas instituições, na política, na polícia, no mundo das artes ou onde brilhe o bastão fetichizado do poder. Pode-se admitir o poder como um fetiche supremo para tamponar o vazio deixado pela castração tão insuportável ao perverso.
Por outro lado, pensa-se nas montagens e nas relações dos casais
perversos como ramificações, ou melhor, derivações desta estrutura em
que é possível ao neurótico aceder a um pouco desse gozo que lhe é
negado por estrutura. Nessas relações eles escapam da responsabilidade
pelo ato perverso sempre imputado ao outro da relação: são funcionários
exemplares, pais extremosos, ou ainda vítimas buscando o sofrimento nas
diferentes relações. A eles sobra um resto de gozo.
Para finalizar, é mister referir-se à perversão nossa de cada dia, a
sexualidade perverso-polimorfa. Vive-se um momento histórico em que a
sexualidade está em evidência e é foco de cursos, palestras, artigos em
revistas. Todos ensinam como extrair a maior quantidade de gozo sexual
possível nas relações íntimas entre os parceiros. Para tal, saem de cena
a moralidade e pudicícia vitorianas dando lugar à exploração das zonas
erógenas, de tal maneira que Freud não hesitaria em considerá-las como
perversas. Na prática constata-se que a ampliação da visão sobre a
sexualidade, ao retomar as zonas de prazer da infância, enriquece o
cardápio da sexualidade adulta, desde que haja um acordo entre os
parceiros no qual o desejo do outro é levado em consideração. Só assim é
aceitável uma infinidade de condutas cujo objetivo é o prazer.
Referências Bibliográficas
ZIMERMAN, E. David Fundamentos Psicanalíticos, Teoria, Técnica e Clínica. Editora Artmed, Porto Alegre, 1999.
MIJOLLA de Alain. Dicionário Internacional da Psicanálise Volume I e II. Editora Imago.
FERRAZ, Carvalho. Perversão na Clínica Psicanalítica.
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